quinta-feira, 16 de março de 2017

E aí, professora! Vai fazer o quê?

Pesquisa realizada pelos alunos do 8º Ano
Fiquei na dúvida se é prudente expressar publicamente estas informações e os meus sentimentos em relação a uma avaliação diagnóstica que realizei com alunos de 9º Ano. Posso causar polêmicas, seguidores nos desabafos ou até um mal estar! Mas, aprendi que muitas vezes, não expomos nossas opiniões e nem expressamos nossas dores porque temos medo de assumir responsabilidades. Podem me dizer que eu poderia fazer isso apenas no meu círculo de trabalho. Eu sei! Mas, quero falar aqui também. Não quero apenas lamentar resultados, mas compartilhar o que estou tentando fazer para buscar uma luz que ilumine o ensino da matemática. Às vezes, temos que mexer em nossas feridas. Não estou pensando em salvar a humanidade que me cerca, nem buscando culpados. Quero apenas dizer que este fracasso é um exagero e que não posso apenas ser cúmplice da história que continua.
É comum ouvirmos que a Educação do nosso país está ruim, que nossos alunos não sabem nem a tabuada e que interpretação de problemas é uma lástima. Enquanto isto, nossos documentos apresentam objetivos de aprendizagem que não parecem ser difíceis de garantir. Os manuais do professor dos livros didáticos insistem em preconizar o valor de trabalhar resolução de problemas e a importância de desenvolver a autonomia dos alunos. Mesmo assim, nossos currículos apresentam o triplo de conteúdos de matemática que são cobrados em países com educação de qualidade. Isso nos confunde muito no sentido do que priorizar: a quantidade ou a qualidade.
Que números concretos estão me perturbando? Fiz a avaliação diagnóstica com 36 alunos do 9º Ano e os resultados foram estes:
- Apenas 3 alunos acertaram o valor de 25% de 868 reais. Ou seja, eles não sabem que 25%  é a metade da metade! Notem que perguntei de um número simples.
- Apenas 11 alunos dividiram corretamente 1465 por 7! Não venham me dizer que eles não precisam calcular esse valor no papel porque hoje tem acesso às calculadoras. Não estamos tratando de números mirabolantes, estamos falando de dignidade intelectual.
E aí, professora! Vai fazer o quê?
Reunir os alunos em círculo para uma conversa franca? Adianta? Não muito! Mas, eles precisam ouvir que estes resultados não são aceitáveis.
Ele não tem idade e maturidade para compreender? Alguns já podem escolher o Presidente da República deste país ou estão presentes a conquistar este direito.
“Vai entrar num ouvido e sair pelo outro!” Dá maioria, acho que sim. Mas, tem uma minoria...
Chamar os pais? Como explicar para eles que seus filhos não sabem nem o que eles sabiam quando estavam na 4ª série? E, como deixar claro que o compromisso é de todos?
E aí, professora! Vai fazer o quê?
Buscar iluminação para ter sabedoria nas palavras, nos pensamentos, nas ações e nas metodologias.
Não deixar de acreditar que é possível mudar o rumo de muitas vidas quando se tem fé unida à ação!
Lancei um desafio para uma das minhas turmas: calcular a medida do lado do quadrado que tem a mesma área da folha A4 cujas dimensões são iguais a 21 cm e 29,7 cm. Uma aluna confeccionou um cubo de aresta igual a 31 cm e um menino fez um paralelepípedo com base quadrada! Ambos não acharam a solução correta, mas suas tentativas foram além do que eu podia esperar e é graças a eles que acredito que vale a pena insistir.
Uma das causas destes problemas são as lacunas que ficaram na vida escolar destes alunos. Como resolver? Descobri que 168 dos 191 dos meus alunos que participaram de uma pesquisa, realizada pelo 8º ano,  tem acesso à internet fora da escola. Quem sabe a tecnologia pode ajudar? Por isso, estou incentivando os alunos a entrarem no site da Khan Academy ou a assistirem a uma lista de vídeos selecionados por conteúdos. Se esta é uma boa idéia, ainda não sei... Mas, é a vontade de encontrar caminhos que possam levar até as flores, enquanto eu mesma tento superar as minhas limitações!
No início de 2017, o Renan Medeiros (que foi meu aluno quando nem pensava em ter barba e eu nem imaginava que um dia ele seria o repórter da editoria política do jornal A Tribuna) enviou uma mensagem contando que estava viciado nos exercícios da Khan Academy e tentando passar em todas as “skills” (habilidades) de matemática.
No final de 2014 eu havia explorado um pouco a plataforma e apesar dela não ser um mundo encantado, percebi que poderia ser usada como uma ferramenta de aprendizagem matemática. Estive fora da sala de aula em 2015 e 2016.
O recado do Renan foi um incentivo para que eu buscasse descobrir um meio de ajudar meus alunos a superaram suas lacunas. É isso que estou tentando fazer no momento e ainda não sei quais serão os resultados.
Neste link, tem um esboço da forma como estou organizando a orientação para os alunos que querem aprender mais com os vídeos da Khan Academy.

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