Calculadora serve para pensar
Tenho uma vaga lembrança da primeira vez que vi uma calculadora. Eu queria mexer, mas não me atrevia “porque não era minha e podia estragar”, segundo meus pais. E, acrescentavam: “Isso é coisa de preguiçoso! Nunca vamos gastar dinheiro com essa porcaria que serve para estragar os alunos.” É claro que essa novidade estava muito distante dos bancos escolares, naquela época.
Tenho uma vaga lembrança da primeira vez que vi uma calculadora. Eu queria mexer, mas não me atrevia “porque não era minha e podia estragar”, segundo meus pais. E, acrescentavam: “Isso é coisa de preguiçoso! Nunca vamos gastar dinheiro com essa porcaria que serve para estragar os alunos.” É claro que essa novidade estava muito distante dos bancos escolares, naquela época.
Depois de algum tempo, quando eu cursava o Magistério, via minhas colegas falando sobre algumas das funções que haviam descoberto. Minha curiosidade aflorava, porém, eu ainda não tinha uma dessas máquinas de calcular e me contentava em observá-las realizando operações com as teclas conhecidas e observando os resultados precisos e magicamente obtidos.
Passado mais um bom tempo, prestes a ter meu diploma de Licenciatura Plena em Matemática, tive um professor chamado Lenoar. Jamais esquecerei da caixa de calculadoras científicas que ele levou para a faculdade, numa certa manhã de sábado. Foi então que, aos vinte e cinco anos de idade, tive a chance de aprender a usar uma tecnologia que sempre admirei. Essa aula foi um marco na minha vida: desde então, tenho me dedicado a explorar os recursos das calculadoras e buscado conhecer maneiras inteligentes de aplicá-las na aprendizagem de matemática.
Tomo a liberdade de relatar um comentário que retirei de um vídeo elaborado pelo Ministério da Educação e intitulado “Fazendo matemática na sala de aula”. Um dos principais educadores do Brasil, Ubiratan Dambrósio, afirma:“Uma das coisas mais intrigantes no sistema escolar é a resistência dos professores à incorporação de tecnologia plena nas suas aulas. Há professores que resistem à utilização de calculadoras e insistem em se dar matemática achando que há alguma importância em colocar um número embaixo do outro e fazer uma adição, uma multiplicação. Isso na História da Humanidade foi um período muito curto e não foi essencial para a grande criatividade que a espécie humana tem mostrado desde a pré-história. O que é condizente à criatividade e vale à pena é a utilização total do que se tem disponível naquele momento. No momento que estamos vivendo hoje, o que é disponível: tecnologias de calculadoras, fliperama, TV, vídeo, computadores, e-mail, Internet. E tudo isso tem que ser incorporado na educação, principalmente na educação matemática que é uma educação que é parte do sistema escolar que deve apontar para o futuro, e o que deve instrumentar o indivíduo para entrar no futuro, para participar do mundo que está se delineando. Isso não se faz sem tecnologia.”
Um colega de profissão, disse-me, veementemente, num encontro de estudos: “Jamais deixarei meus alunos de 5a a 8a série usarem calculadora durante as aulas”. Tenho que respeitar sua opinião porque ele tem seus argumentos. No entanto, acredito que ele - como a maioria dos pais e profissionais da educação - defendem o uso de computadores, de vídeos educativos, de filmes, da Internet e de outros recursos tecnológicos. Então, porque discriminam a calculadora mesmo sabendo que mais importante do que fazer contas de maneira rápida e correta, é interpretar o problema e descobrir quais os passos para se chegar à solução? Por que não ficam sem essa maquininha na hora de fazer as contas do mês e de fechar as médias de suas turmas? Por que a utilizam para verificar quanto receberão de aumento? Por que todos têm uma em casa?
Acho que o medo de que se esteja “emburrecendo” as crianças quando as ensinamos a usar calculadoras, está na falta de conhecimento do potencial educativo dessa simples e barata “maquininha de calcular” que pode ser também, uma “maquininha de pensar”.
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