domingo, 6 de junho de 2010

EU CONSIDERO ESSE PROBLEMA GRAVÍSSIMO...

Resolvi acrescentar essa questão numa das provas que apliquei com alunos do 9º Ano. Estou colocando a minha competência profissional em questão, mas quero compartilhar com outros colegas professores, a minha decepção, a minha preocupação, o meu sentimento de vergonha e o meu desespero por não saber como garantir aprendizagem aos nossos alunos. E quem sabe, encontrar uma luz...
Eu tenho certeza de que quando eu estava na quarta série era capaz de resolver essas questões e eu não era uma criança superdotada. Sou a filha mais velha de um casal de agricultores que jamais tiveram tempo e conhecimentos para me ajudar nas tarefas escolares. Então, a desculpa de que os pais não participam, não serve!
Os primeiros oito ou dez alunos que entregaram essa prova, estavam deixando essa questão em branco porque não sabiam o que era para fazer. Devolvi todas e exigi as operações. Propositalmente eu resolvi escrever pedindo que calculassem a diferença, o produto e o quociente, pois são termos matemáticos correntes nos livros didáticos. E observem que o enunciado pede que armem e efetue as operações!
Eu fiz uma questão de divisão cujo resultado é exatamente 709. Pensei que iam esquecer do zero, mas apenas dois alunos erraram por esse motivo: a maioria errou porque se atrapalha na tabuada!
Sinto receio de prejudicar a autoestima dos meus alunos com essas observações ou de que eles achem isso normal. Sei que o problema não está somente com meus alunos. Hoje, minha enteada que cursa Direito disse que quando precisam realizar cálculos matématicos simples, como uma soma ou quanto é um terço de uma pena, a turma se apavora...
Eu sei que não basta eu fazer uma lista de operações e solicitar que resolvam. A situação é mais grave! Temos motivos para sermos um dos piores países nas avaliações de aprendizagem.
Isso chega a ser irritante! Mas, amanhã, mais uma vez estarei em sala de aula tentando cumprir meu trabalho com dignidade.

               Arme as operações e calcule:   
a) A diferença entre 4629 e 2682 é igual a ........................
b) O produto dos fatores 5 706 e 96 é igual a ........................
c) O quociente entre 58 847 e 83 é igual a ........................
Gostaria muito que escrevessem seus comentários.

Uma colega de trabalho me disse que sou como o Sr. D. do filme Escola da Vida (não sou tão exagerada!) e questionou: "Então, porque com a Ana, não dá certo?" Então, resolvi assistir o filme novamente. Eu já havia escrito uma crônica sobre isso, no ano de 2006:

6 comentários:

Andreane disse...

Ana acredito que seja uma questão de nomenclatura, alguns professores ainda não utilizam a nomenclatura correta nas suas aulas, e por esse motivo nossos alunos também ainda não tem o hábito de utilizá-las, se ao invés de diferença você tivesse colocado "Faça a subtração e dê o resultado", certamento haveriam maiores acertos. É claro que isso não justifica a falta de interesse com que nossos alunos chegam as nossas instituições, mas precisamos continuar acreditando no nosso trabalho.

Elisa disse...

Oi Ana

Você fez uma análise sobre o desenvolvimento das questões? Isto é importante para você observar onde estão as dificuldades: se estão relacionadas com a linguagem matemática (produto de fatores ... multiplicação, ... diferença... subtração...), que afeta a interpretação da situação problema ou relacionadas aos obstáculos nos processos operatórios. Perguntar ao aluno o motivo pela opção de não resolver também é importante e pode orientá-la para novas estratégias pedagógicas. O seu desabafo é um indicador da sua preocupação enquanto educadora sobre a qualidade de ensino e aprendizagem de nossos alunos. Parabéns e continue. Precisamos de professores que acreditam na Educação.

Ana Lúcia disse...

Andreane, não foi um problema com a nomenclatura, infelizmente! Faltou pensar um pouco!

Marlene disse...

Ana, gostaria de me solidarizar contigo, pois tuas angustias também são as minhas. Muitas vezes eu também me coloco na berlinda como professora de matemática e fico pensando o que fazemos em sala de aula. Mas depois, percebo que isso acontece com quase todas(os) nós. Continue se questionando, pois este é o caminho para alcançarmos uma educação melhor. Abraços.

Aron Roberto Ferreira disse...

olá Ana

É interessante ver você colocar de maneira tão sincera, problemas que todos nós, professores de matemática, deparamos no dia a dia. Uma coisa que eu costumo fazer muito é problematizar as operações, assim os alunos veem a necessidade da tabuada, não como decoreba, mas como instrumento de leitura do mundo. A partir desses problemas você pode motivar a aprendizagem.
Observe também que o tempo de cada um é diferente, mas não pode demorar muito se não passa da hora de aprender a tabuada.
Um abraço e fica com Deus.
Aron

Luís Cláudio LA disse...

Oi Ana Lúcia...

Muito bacana o seu blog. Eu acho bom encontrar alguém que também gosta de escrever e colocar as ideias para serem discutidas.

Esse problema também me aflige. Viu o resultado do Pisa 2009? Já estivemos piores, mas cá entre nós... Estamos péssimos e quando eu vejo que o Distrito Federal com todos os problemas que tivemos aqui ainda ficou no primeiro lugar do Brasil isso então me deixa muito preocupado pois penso: se isso é o melhor que o Brasil tem então... Estamos perdidos se não houver nenhuma mudança... .

Eu penso que um dos problemas é que todo mundo quer tudo de graça; não querem aprender e sim um macetes que o leve até a resposta. O porquê? Pra quê?

Matemática para mim é uma linguagem (a linguagem da ciência - além do inglês (risos)) e como tal é necessário que se aprende a se expressar nessa linguagem. Se a professora diz: encontre a diferença ou encontre a produto e o aluno não sabe o que é diferença ou produto então há um problema sério aí (e é em todo o Brasil). O aluno não sabe o elementar desta linguagem.

Uff... Sobre isso dá para escrever um livro. Vou parar por aqui. Temos que pensar em como resolver esse problema.

Ana Lúcia, você é o Senhor D é? Aquele cara é show de bola. Queria eu ser como ele também. Parabéns!!!

Grande abraço
Luís Cláudio LA