Resolvi acrescentar essa questão numa das provas que apliquei com alunos do 9º Ano. Estou colocando a minha competência profissional em questão, mas quero compartilhar com outros colegas professores, a minha decepção, a minha preocupação, o meu sentimento de vergonha e o meu desespero por não saber como garantir aprendizagem aos nossos alunos. E quem sabe, encontrar uma luz...
Eu tenho certeza de que quando eu estava na quarta série era capaz de resolver essas questões e eu não era uma criança superdotada. Sou a filha mais velha de um casal de agricultores que jamais tiveram tempo e conhecimentos para me ajudar nas tarefas escolares. Então, a desculpa de que os pais não participam, não serve!
Os primeiros oito ou dez alunos que entregaram essa prova, estavam deixando essa questão em branco porque não sabiam o que era para fazer. Devolvi todas e exigi as operações. Propositalmente eu resolvi escrever pedindo que calculassem a diferença, o produto e o quociente, pois são termos matemáticos correntes nos livros didáticos. E observem que o enunciado pede que armem e efetue as operações!
Eu fiz uma questão de divisão cujo resultado é exatamente 709. Pensei que iam esquecer do zero, mas apenas dois alunos erraram por esse motivo: a maioria errou porque se atrapalha na tabuada!
Eu fiz uma questão de divisão cujo resultado é exatamente 709. Pensei que iam esquecer do zero, mas apenas dois alunos erraram por esse motivo: a maioria errou porque se atrapalha na tabuada!
Sinto receio de prejudicar a autoestima dos meus alunos com essas observações ou de que eles achem isso normal. Sei que o problema não está somente com meus alunos. Hoje, minha enteada que cursa Direito disse que quando precisam realizar cálculos matématicos simples, como uma soma ou quanto é um terço de uma pena, a turma se apavora...
Eu sei que não basta eu fazer uma lista de operações e solicitar que resolvam. A situação é mais grave! Temos motivos para sermos um dos piores países nas avaliações de aprendizagem.
Isso chega a ser irritante! Mas, amanhã, mais uma vez estarei em sala de aula tentando cumprir meu trabalho com dignidade.
Arme as operações e calcule:
a) A diferença entre 4629 e 2682 é igual a ........................
b) O produto dos fatores 5 706 e 96 é igual a ........................
c) O quociente entre 58 847 e 83 é igual a ........................
Gostaria muito que escrevessem seus comentários.
Uma colega de trabalho me disse que sou como o Sr. D. do filme Escola da Vida (não sou tão exagerada!) e questionou: "Então, porque com a Ana, não dá certo?" Então, resolvi assistir o filme novamente. Eu já havia escrito uma crônica sobre isso, no ano de 2006:
6 comentários:
Ana acredito que seja uma questão de nomenclatura, alguns professores ainda não utilizam a nomenclatura correta nas suas aulas, e por esse motivo nossos alunos também ainda não tem o hábito de utilizá-las, se ao invés de diferença você tivesse colocado "Faça a subtração e dê o resultado", certamento haveriam maiores acertos. É claro que isso não justifica a falta de interesse com que nossos alunos chegam as nossas instituições, mas precisamos continuar acreditando no nosso trabalho.
Oi Ana
Você fez uma análise sobre o desenvolvimento das questões? Isto é importante para você observar onde estão as dificuldades: se estão relacionadas com a linguagem matemática (produto de fatores ... multiplicação, ... diferença... subtração...), que afeta a interpretação da situação problema ou relacionadas aos obstáculos nos processos operatórios. Perguntar ao aluno o motivo pela opção de não resolver também é importante e pode orientá-la para novas estratégias pedagógicas. O seu desabafo é um indicador da sua preocupação enquanto educadora sobre a qualidade de ensino e aprendizagem de nossos alunos. Parabéns e continue. Precisamos de professores que acreditam na Educação.
Andreane, não foi um problema com a nomenclatura, infelizmente! Faltou pensar um pouco!
Ana, gostaria de me solidarizar contigo, pois tuas angustias também são as minhas. Muitas vezes eu também me coloco na berlinda como professora de matemática e fico pensando o que fazemos em sala de aula. Mas depois, percebo que isso acontece com quase todas(os) nós. Continue se questionando, pois este é o caminho para alcançarmos uma educação melhor. Abraços.
olá Ana
É interessante ver você colocar de maneira tão sincera, problemas que todos nós, professores de matemática, deparamos no dia a dia. Uma coisa que eu costumo fazer muito é problematizar as operações, assim os alunos veem a necessidade da tabuada, não como decoreba, mas como instrumento de leitura do mundo. A partir desses problemas você pode motivar a aprendizagem.
Observe também que o tempo de cada um é diferente, mas não pode demorar muito se não passa da hora de aprender a tabuada.
Um abraço e fica com Deus.
Aron
Oi Ana Lúcia...
Muito bacana o seu blog. Eu acho bom encontrar alguém que também gosta de escrever e colocar as ideias para serem discutidas.
Esse problema também me aflige. Viu o resultado do Pisa 2009? Já estivemos piores, mas cá entre nós... Estamos péssimos e quando eu vejo que o Distrito Federal com todos os problemas que tivemos aqui ainda ficou no primeiro lugar do Brasil isso então me deixa muito preocupado pois penso: se isso é o melhor que o Brasil tem então... Estamos perdidos se não houver nenhuma mudança... .
Eu penso que um dos problemas é que todo mundo quer tudo de graça; não querem aprender e sim um macetes que o leve até a resposta. O porquê? Pra quê?
Matemática para mim é uma linguagem (a linguagem da ciência - além do inglês (risos)) e como tal é necessário que se aprende a se expressar nessa linguagem. Se a professora diz: encontre a diferença ou encontre a produto e o aluno não sabe o que é diferença ou produto então há um problema sério aí (e é em todo o Brasil). O aluno não sabe o elementar desta linguagem.
Uff... Sobre isso dá para escrever um livro. Vou parar por aqui. Temos que pensar em como resolver esse problema.
Ana Lúcia, você é o Senhor D é? Aquele cara é show de bola. Queria eu ser como ele também. Parabéns!!!
Grande abraço
Luís Cláudio LA
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