segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DESABAFO: PROFESSORA (FORQUILHINHA - SC)

Hoje é dia 17 de fevereiro de 2011, pensei em escrever ontem à noite mas não consegui. Não consegui porque estva chorando! Chorando como uma criança! Eu aos meus 31 anos me sentia pequena e indefesa.
Aliás, por falar em crianças, acho pertinente observar que nos meus 15 anos de idade já pensava em ser professora, entretanto, desisti do magistério ao pensar em lidar com crianças poderia ser complicado. Terminando o Ensino Médio regular e ainda pulsando em mim o desejo de lecionar ingressei na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, meu estado de nascimento. Logo, daria aula aos adolescentes, o que, na época, me parecia mais atrativo, tendo em vista que alunos de 15 anos em diante deveriam apresentar uma maturidade maior do que as crianças, facilitando assim o meu trabalho.
Atualmente, leciono na Escola de Educação Básica Luiz Tramontin, no município de Forquilhinha, estado de Santa Catarina, onde atuo como professora efetiva das disciplinas de Filosofia e Sociologia, tenho 12 turmas, o que totaliza aproximadamente 350 alunos, como os quais convivo diariamente de segunda à sexta-feira, nos períodos matutino e noturno. Sinto orgulho em dizer que nada menos do que 8, das 12 turmas nas quais leciono, me escolheram como sua regente, o que demonstra a confiança que a maioria dos alunos deposita em mim. Optei por aceitar a regência de apenas 3 turmas afim de poder melhor organizar o meu trabalho; colocando-me, sempre, ao inteiro dispor de todos os educandos para ajudá-los a solucionar seus problemas diários de convivência e aprendizagem. São inúmeros os alunos e ex-alunos que vem a mim não só como uma professora, mas um amiga, com a qual podem contar; dou conselhos, organizo passeios, amadrinho casamentos e converso sobre assuntos que muitos pais tem vergonha ou falat de tempo para falar com seus filhos, tudo buscando cumprir a máxima do discurso de formatura, proferido por mim, enquanto oradora da minha turma de faculdade: “Temos que ser mais do que professores!”.
Contudo, depois de 5 anos de profissão e aos 8 dias do início do ano letivo de 2011, saí de uma sala de aula, pela primeira vez com medo.
Ministrando a última aula da noite numa turma de 1º ano do Ensino Médio, ao explicar o conteúdo de Sociologia, percebi cochichos, risos e um burburinho que aos poucos tomava conta do fundo da sala. Uma folha de papel passava de mão em mão; alguns alunos olhavam e riam. Fui até um aluno e pedi a folha, o menino fechou a cara, antes sorridente, e entregou o tal papel. Ao voltar à minha mesa escutei frases soltas pela sala, como: “Ih! Te ferrou!”. Surpresa desagradável tive ao abrir o papel e me deparar com um desenho horrível, a mais estranha representação de mim, a qual jamais imaginei passar aos meus alunos: uma mulher redonda, com a inscrição 'eu sou gorda' na barriga, com chamas embaixo dos pés, onde estava escrito: Inferno!(possivelmente se referindo à minha aula)...
Baixei o olhar, que já tinha perdido um pouco de brilho ao olhar para aqueles jovens ali e perceber que ao invés de estar transmitindo conhecimentos, estava servindo de motivo de chacota para uma turma inteira se divertir com minha “tão mal feita” caricatura.
Questionados sobre a obra-prima, toda a turma negou-se a entregar o desenhista que não quis assumir a autoria de sua obra de arte.
No dia 16 de fevereiro de 2011 eu, Geruza Prestes da Silva Longaray, professora de Filosofia e Sociologia da EEB Luiz Tramontin fui vítima de Bullying. Deliberadamente, os risos preenchiam a sala. E, quando precisava da ajuda dos alunos, os quais tento ter como amigos, vi uma classe inteira virara suas costas e se negar a apontar o autor.
Olhava para todos aqueles meninos e meninas que poderiam ser meus filhos e sentia medo em saber que estava diante de um agressor sem de fato saber quem este era.
Eu, uma mulher casada, com uma família e um marido que me amam, que sempre fui bem resolvida com minha aparência, mesmo estando acima do peso e fora dos padrões tradicionais de beleza, tenho minha figura exposta de forma ridícula a toda uma turma onde muitos dos alunos, sendo repetentes, aprenderam na minha própria disciplina a não julgar as pessoas pela aparência. Aprenderam? Mesmo?
Resolvi hoje, mesmo com os olhos inchados pelo sufocamento das lágrimas derramadas na noite anterior, desabafar com todos aqueles a quem ainda considero amigos e amigas. Escrevo para dizer que não podemos mais, enquanto professores ou alunos, nos calar frente aos inúmeros tipos de violência enfrentados na escola: Diariamente!
No que está se transformando o ambiente dedicado à educação de nossas crianças e jovens?
Escrevo às turmas que ainda nutrem respeito pelas pessoas, a esses alunos com os quais sei que ainda posso contar. E peço que repassem este e-mail doloroso de desabafo ao maior número de pessoas possível.
Só encarando o problema de frente, expondo nossas fragilidades e buscando nossos direitos é que estaremos efetivamente contribuindo para exterminar o problema do Bullying na escola, bem como em toda a sociedade.
OBS: ao chegar em casa, deixei meu material, fui até a delegacia de polícia onde registrei um Boletim de Ocorrência por constrangimento ilegal. Hoje à tarde pretendo consultar um advogado para tomar as providências legais quanto ao ocorrido. Antes de enviar este e-mail, li o texto aos meus colegas no intervalo, na sala dos professores, recebendo apoio unânime destes meus amigos batalhadores, que se propuseram a não mais entrar na sala de aula do ocorrido até que apareça a autoria pela agressão.
BULLYING é Crime!
Em silêncio você fortalece o agressor!
Professora Geruza Prestes da Silva Longaray, às 11h e 50 min do dia 17/02/2011

Um comentário:

Anônimo disse...

a criança que fez essa caricatura so pode ser um sem noção qualquer. professora Geruza nossa uma das melhoresq já tive!e não deixe se abala por essa brincadeira de mau gosto e não podemos ficar queitos diante disso!!