Não adianta fazer o concurso da prefeitura de Cocal do Sul. São cartas marcadas, vai passar quem eles quiserem! Era isso que falavam em 2003. Eu morava em Criciúma há apenas três anos, não conhecia quase ninguém nesta cidade e região. Também sabia que precisava passar em primeiro lugar para garantir a única vaga da tarde. Empatei em nota com o professor Kristian Madeira. Enquanto ele lamentava não ter acertado uma questão a mais, eu comemorava por ser mais velha do que ele. Fomos bons colegas por um tempo. Ele seguiu a carreira universitária e eu fiquei por 22 anos atuando como professora de matemática dos Anos Finais.
Comecei na Escola Demétrio Bettiol. Lembro bem da figueira gigante, do laboratório de informática que na época era uma revolução na educação, das dificuldades iniciais enfrentadas por falta de experiências, das caronas combinadas, dos passes de ônibus muito utilizados e da sala dos professores onde a gente conversava muito.
Foi nesta escola que convivi com minha irmã de alma Fátima Guollo. Tenho muitas lembranças da alegria dela se espalhando por todos os lados. Infelizmente ela saiu deste mundo antes do tempo que nós achamos o certo.
Muita luz entrava pelas janelas daquela escola. Muitos sonhos foram acolhidos. Diversos projetos foram discutidos. Foi lá que nasceu o clube de matemática.
Voltando de um curso da UFSC sobre a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) eu disse que não ia trucidar os alunos com aquelas questões conteudistas porque eram difíceis para nós professores, imagina dos alunos. A Secretaria de Educação Raquel Quarezemin sugeriu que criássemos um projeto para trabalhar com eles. Aceitei desde que não fosse um reforço em matemática. Devíamos convidar todos não importante se tinha ou não dificuldade em matemática. Fui criticada por alguns, mas deu certo. Lembro que quase um terço dos alunos pediu pra entrar. Foi um sucesso. Eles iam porque gostavam.
Minhas parceiras no clube de matemática foram Diana Morona, que hoje mora na Alemanha, e Maria Albertina Guizzo, que vive na Itália. Juntas planejamos muitas atividades voltadas para as olimpíadas de matemática e foi neste projeto que nasceu o interesse pelo cubo mágico. Lembro de um projeto sobre alimentação e outro em que visitamos o estádio Heriberto Hulse. Um dos momentos mais marcantes foi em 2014 quando fomos com 80 alunos do clube assistir um jogo do Criciúma contra o Santos. Naquele ano o nosso time caiu, mas este jogo ele venceu por 3 a 0.
Pedi licença para trabalhar como coordenadora de matemática na rede municipal de Educação de Criciúma nos anos de 2015 e 2016.
Voltei para Cocal e fui atuar na Escola Cristo Rei. Eu achava o prédio muito parecido com uma prisão. Me refiro a organização das salas e aos corredores. O muro não combinava com presídio, eu mesma pulei inúmeras vezes para não ficar incomodando as serventes. Foi nesta escola que passamos pelo duro período da pandemia e que percebemos o poder avassalador das redes sociais. Saio dela enquanto o mundo passa por transformações que assustam. Vivemos tempos complicados, os valores humanos estão confusos e o futuro cada dia mais incerto. Gestores e educação teimam em sonhar. Eles não sofrem sozinhos. Não vou selecionar palavras para dizer o que sinto, não é momento para florear. Nem sempre temos força para dar o rumo, direcionar. É preciso entender que a escola deve ser um lugar onde cada minuto vale ouro. É preciso valorizar as palavras que já foram lapidadas pelo tempo. É preciso acreditar que dentro de cada criatura divina que passa por aqueles portões há uma individualidade capaz de refletir amor, esperança, sonhos e conhecimentos voltados para o bem. Escola devia ser um espaço sagrado, respeitado. Quem atirar pedras nela pode cometer erros que não tem solução fácil.
Quando comecei a trabalhar na escola Demétrio Bettiol eu imprimia próximo ao cabeçalho das provas uma frase que copiei da TV Cultura: “Uma mente brilhante precisa de conteúdo para se desenvolver”. Foi esta mensagem que eu pedi que os alunos das cinco turmas para as quais lecionei encerrando minha carreira na educação, levassem para suas vidas. Entrei em todas as salas para me despedir e delas saí com a alma tranquila, em paz e com a incerteza da missão cumprida.
Durante os anos de 2003 a 2006 escrevi mais de 170 crônicas para o extinto Jornal Cocal. Naquela época eu não imaginava que hoje estaria me formando no jornalismo. Escrevi isso tudo sentada no refeitório da UniSatc enquanto aguardo o começo de uma das últimas aulas desta instituição que frequento há dez anos. Aqui fui colega de ex-alunas minhas, Ester Leopoldo e Anita Delavedova. Fui marcada por excelentes professores que me ajudaram a abrir portas para um futuro que desconheço, mas que chegará com muita coisa para aprender. Sempre disse aos meus alunos que a vida tem graça enquanto a gente sente vontade de aprender e se dedica para ser melhor a cada dia.
Hoje recebi uma placa da Prefeitura Municipal de Cocal do Sul que guardarei para o resto da minha vida. Também quero agradecer o privilégio que tive de conviver com as pessoas que por esta cidade passaram ou vivem. Estou com dificuldades para citar nomes porque há tanta gente em minha memória e em meu coração!
Finalizo dizendo que sou grata por chegar aos 52 anos com saúde mental e física. Um dia me disseram que devemos buscar o respeito dos mais velhos para ter sucesso na vida. Tentei ouvir os conselhos e seguir a consciência. Sigo determinada! E agora passo a ser dona do meu tempo. Muito obrigada!
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